terça-feira, 26 de outubro de 2010

Duas censuras

Ainda no mote da censura relacionada à Folha de São Paulo, vejamos o artigo A CENSURA E AS ASPAS, do dia 24 de outubro de 2010, do caderno Ilustríssima, no Diário de Pequim:


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DIÁRIO DE PEQUIM – Ilustríssima – FOLHA SP

O MAPA DA CULTURA

A CENSURA E AS ASPAS

Escrever é mais perigoso do que pilotar carros de corrida

FABIANO MAISONNAVE

AOS 28 ANOS, o escritor best-seller, cantor, editor de revista, piloto de corridas e sex symbol chinês Han Han é o ícone dos “pequenos imperadores”, alcunha dada à geração nascida nos anos 80, sob a política do filho único e quando eram dados os primeiros passos da abertura econômica pós-Mao.
Sinal dos tempos, nenhuma dessas atividades deu tanta fama a Han Han quanto seu blog, o mais popular da China -o que faz dele, muito provavelmente, o escritor contemporâneo mais lido do mundo.
Crítico do governo, o blogueiro volta e meia tem problemas com a censura. Num caso recente, teve de apagar um comentário que ironizava os protestos antijaponeses fomentados por Pequim em torno de uma disputa territorial. Ali, ele dizia haver três tipos de chineses: mestres, lacaios e cachorros.
Han Han sabe que está brincando com fogo. Em entrevista ao jornal “Financial Times” em janeiro, disse que, na China, escrever é mais perigoso do que pilotar carros: “Pelo menos correr não dá cadeia”.
Com esses antecedentes, era natural que, em 8 de outubro, quando o professor de literatura e dissidente político Liu Xiaobo ganhou o Prêmio Nobel da Paz, houvesse bastante expectativa sobre o que Han Han diria. Para orgulho dos fãs, ele não deixou a notícia do dia passar em branco, como fez a mídia oficial. Foi além: pôs o branco entre aspas. Eis a íntegra do post: ” “.
Colocado em contexto, o vazio de Han Han faz sentido. Naquele dia, o governo chinês deu uma impressionante demonstração de poder ao montar o que talvez tenha sido a maior operação de censura da história mundial.
Enquanto os meios de comunicação do resto do planeta noticiavam a escolha de Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de cadeia por encabeçar um movimento de intelectuais e ativistas em favor de reformas democráticas, na China só foi permitida a divulgação de uma nota oficial criticando a decisão.
Nenhum dos populares fóruns de discussão na internet chinesa (a maior do mundo, com 400 milhões de usuários) teve permissão para discutir o Nobel. Canais estrangeiros como a CNN e a BBC saíram do ar quando falavam do prêmio. A operação chegou até aos celulares: mensagens com as palavras “Nobel” ou “Xiaobo” não foram transmitidas.
Em meio ao blecaute informativo, o post, provavelmente o menor do mundo, foi um sucesso. Até o fechamento desta edição, havia sido visitado por 669.877 internautas, dos quais 5.968 clicaram num botãozinho demonstrando apoio.
Se Han Han teve a intenção de que os seus leitores entendessem a menção ao Nobel por elipse, a estratégia deu certo. Muitos dos 16.998 (!) comentários dizem apenas “entendo” e “concordo”. Houve quem escrevesse apenas “bel”, para driblar o veto a “Nobel”.
A minoria criticava Han Han, acusando-o, entre outras coisas, de querer chamar a atenção. Em Pequim, pessoas próximas a Liu Xiao-bo, a maioria intelectuais, estão acuadas. Sua mulher, a poeta e fotógrafa Liu Xia, está em prisão domiciliar há duas semanas.
Vários dos que ajudaram Liu Xiaobo na redação do documento Carta 08, de 2008, que pede abertura política, estão sob vigilância e pressão. Procurada por este repórter na quarta, uma das signatárias, a crítica de cinema Cui Weiping, 54, disse que não quer dar entrevistas porque “o momento não é conveniente”.
(...)
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Duas censuras:
- A censura explícita e admitida da China;
- A "censura invisível" das grande mídias, como na Folha

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